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segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Pupila 16°Capítulo

Posted by Anônimo | segunda-feira, outubro 10, 2011

Capitulo 16

Depois, Carlos, falávamos em literatura, analisávamos as óperas, discutíamos os méritos dos romances, e vivíamos em academia permanente, quando Vasco me não deixava quatro, cinco e seis horas entregue às minhas inocentes recreações científicas.

Vasco cansara-se de mim. A consciência afirmou-me esta verdade atroz. Sufoquei a indignação, as lágrimas e os gemidos. Sofri sem limites. Abrasou-se-me na alma um inferno que me coava fogo nas veias. Não houve nunca mulher assim desgraçada !

E vivemos assim dezoito meses. A palavra “casamento” foi banida de nossas curtas conversações… Vasco desquitava-se de compromissos, que ele chamava parvos. Eu mesma, de bom grado, o remia de ser o meu escravo, como ele intitulava o néscio que se deixava algemar às obscuras superstições do sétimo sacramento… Foi aí que Vasco de Seabra encontrou a Sofia que te apresentei no Real Teatro de S. João, na primeira ordem.

Comecei então a pensar em minha mãe, em meu irmão, na minha honra, na minha infância, na memória deslustrada de meu pai, na tranquilidade de minha vida até ao momento em que me atirei à lama e salpiquei com ela a face da minha família.

Peguei na pena para escrever a minha mãe. Escrevera a primeira palavra, quando compreendi o vexame, a desgradação e a vilania com que ousava apresentar-me àquela virtuosa senhora, com a face manchada de nódoas, contagiosas. Repeli com nobreza esta tentação, e desejei, naquele instante, que minha mãe me julgasse morta.

Em Londres vivíamos numa hospedaria, depois que Vasco perdeu o medo a meu irmão. Viera aí hospedar-se uma família portuguesa. Era o visconde do Prado, e sua mulher, e uma filha. O visconde relacionou-se com Vasco, e a viscondessa e sua filha visitaram-me, tratando-me como irmã de Vasco.

Agora, Carlos, esquece-te de mim, e satisfaz a tua curiosidade na história desta gente, que já conheceste no camarote da segunda ordem.

Mas não posso agora dispor de mim… Saberás, alguma vez, a razão por que não pude continuar esta carta.

Adeus, até outro dia.

Henriqueta.”

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