As equipes de resgate trabalham sem parar há quatro dias, procurando vítimas das chuvas. Há pelo menos 30 pessoas desaparecidas. Os bombeiros fazem buscas em montanhas de escombros e também nos rios. “Nós estamos trabalhando numa área sujeita a novos deslizamentos”, diz o coronel José Mauro da Costa, do Corpo de Bombeiros.
A maior dificuldade é chegar até as comunidades que estão isoladas. Em algumas regiões, até mesmo os animais tentam escapar da água e se refugiam nos lugares mais altos. “Nem tratores-esteiras estão conseguindo subir, porque eles atolam. O acesso por terra é impossível, só pode ser feito com aeronaves”, afirma o major Márcio Alves, coordenador da Defesa Civil de SC.
A Defesa Civil já conta mais de 53 mil desabrigados em todo o estado, e ainda há áreas de risco prestes a ceder.
A situação chegou a esse ponto depois de quase 60 dias de chuva ininterrupta no estado. Piorou no fim de semana, quando choveu o volume de água esperado em quatro meses. A partir daí, o que se viu foram inundações e encostas desmoronando.
Oito municípios estão isolados: São Bonifácio, Luiz Alves, São João Batista, Rio dos Cedros, Garuva, Pomerode, Itapoá e Benedito Novo. Cinco decretaram estado de calamidade pública: Blumenau, Gaspar, Rio dos Cedros, Nova Trento e Camboriú, todos no Vale do Itajaí, a região mais atingida pelas chuvas. Os moradores do vale vivem entre o rio Itajaí-Açu, que subiu mais de 11 metros, e as encostas, que não suportaram a água e desabaram.
Os alagamentos e as quedas de barreiras também prejudicaram serviços essenciais, como água e energia elétrica. Em todo o estado, são 138 mil residências no escuro. Na Grande Florianópolis, o abastecimento de água está comprometido por conta do rompimento de uma adutora; a capital teve de implantar um sistema de rodízio para economizar.
A situação nas estradas também é difícil. Segundo a Defesa Civil, a BR 101 tem pelo menos três pontos fechados. Ao todo, há ainda 17 trechos interditados nas rodovias federais e estaduais em Santa Catarina.
Subiu para 67 o número de mortes no estado. A Polícia Civil em Blumenau registrou saques em farmácias e supermercados que estavam fechados por conta dos alagamentos.
Vale do Itajaí
Os trabalhos de resgate estão concentrados principalmente no Vale do Itajaí, a região mais castigada pela chuva. Milhares de moradores perderam tudo o que tinham e muitos escaparam da morte por pouco.
Duzentas pessoas estavam isoladas desde sábado depois que o Morro do Baú, no município de Ilhota, veio abaixo. O grupo foi resgatado na terça por helicópteros do Exército e Marinha. “Morreu muita gente, criança, a situação está muito caótica mesmo. A gente achava que não ia sair mais de lá, com os morros todos caindo, avalanches“, relatou a dona de casa Marilza dos Santos, ainda nervosa.
A cidade de Itajaí está debaixo d'água. Contêineres foram transformados em casas para abrigar quem foi atingido pela cheia.
Em Blumenau, a cidade mais castigada pela enxurrada, o número de desabrigados subiu para 23 mil. A maior parte foi para a casa de parentes. Três mil pessoas estão em alojamentos públicos. Os deslizamentos de terra derrubaram a parte da rede elétrica e deixaram a cidade sem água potável.
Desmoronamentos mantêm comunidades isoladas. Uma delas é o bairro Progresso. As máquinas trabalham noite e dia para limpar o acesso à região, que fica num morro da cidade. Há relatos de mortos e feridos.
O Exército usa blindados anfíbios para chegar aos lugares mais difíceis, mas até o batalhão ficou desfalcado pela enxurrada. “Temos 47 homens com quem ainda não estabelecemos contato, e temos 100 que estão trabalhando de modo autônomo e não conseguem chegar no quartel”, contou o comandante Edson Rosty.
A Defesa Civil montou um hospital de campanha para agilizar o atendimento dos resgatados. “Temos muitos casos de pessoas que ainda estão presas. Elas precisam de um pronto-atendimento para depois fazermos a triagem para os hospitais”, diz o médico Carlos Eduardo Deduschi.
A situação ainda é de risco no Vale do Itajaí. “A possibilidade de deslizamentos ainda continua, em função do grande encharcamento da terra”, alerta Carlos Maestrina, do Corpo de Bombeiros.
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