Hebe Camargo é a pessoa mais alegre da TV brasileira. E como alegria é moeda forte, claro que ela não ficou, nem ficaria, um dia sequer desempregada nesses tempos em que "ser para cima" vale muito. Hebe tem mil e uma outras qualidades, que fique claro. Mas uma das maiores delas (em termos mercadológicos) é a tal "alegria de viver". E agora a Rede TV!, em jogada de mestre, vai exibir isso em seu horário nobre.
Hebe não se abate. Um câncer? Nada demais! Ela tira de letra, nunca perdeu a esperança, porque tem o amor do público e seus santinhos ali do lado da cama. Em sua festa de 80 anos, ela dança como uma adolescente. Está feliz da vida. Beija todos na boca. Se emociona com a presença de Roberto Carlos e rebola com a amiga Lucilia Diniz.
Ela sorri até na hora de tirar a peruca e posar mostrando um dos danos causados pela quimioterapia. A impressão é que Hebe tira tudo de letra. Encara tudo numa boa, como se a vida fosse, de fato, um animado programa de auditório da TV. Sua mansão é cheia de produtos brilhantes, suas joias ofuscam os olhos e ela sempre "tem muito a agradecer".
Sim, é impossível não se comover com a força de Hebe Camargo, seu carisma e seu talento inegável como apresentadora. Agora, no fundo, talvez o que seja tão fascinante e "vendedor" nela seja mesmo a alegria nas horas difíceis. Nos salões de beleza, as manicures a admiram e pensam que quando tiverem 81 anos podem estar rebolando até o chão.
A alegria de Hebe e sua força são parecidas com a de apresentadoras americanas de sucesso como Oprah. É um mundo onde se abater não pega bem. Todo mundo tem medo de envelhecer. Hebe não tem. Quem tem câncer sofre horrores com a quimioterapia e tem medo de morrer (o que não é privilégio só de quem tem câncer). A vida dói. E muito. E ficar doente dói mais ainda. Principalmente se logo depois você perder o emprego! Mas não com Hebe. Ela está sempre alegre, feliz, radiante. E, como vivemos uma época em que sofrer pega meio mal (é só acompanhar o twitter dos famosos para perceber que a maioria deles parecem não ter problemas e estar sempre de bom humor) para perceber isso.
Gente que sofre não alcança muita audiência na TV. E as moças que vieram depois de Hebe, como Ana Maria Braga e Luciana Gimenez, também mostram isso. Todo mundo está sempre para cima. Ficar para baixo pega mal. E, se você é um telespectador, ainda olha para Hebe sorrindo, apesar de tantos problemas, e se sente um pouquinho pior porque você, ao contrário da diva da TV, sofre. E se sente menos forte que ela. É que nem todo mundo consegue ser alegre o tempo inteiro...
Nina Lemos - Folha
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