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sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Pupila 5°Capítulo

Posted by Anônimo | sexta-feira, setembro 23, 2011

Capitulo 5

- “Não,” ─ exclamou ele com entusiasmo ─ “não me fujas, porque me levas a esperança mais bela que o meu coração concebeu. Deixa-me adorar-te, sem te conhecer !… Não levantes nunca esse véu… Mais deixa-me ver a face da tua alma, que deve ser a realidade de um sonho de vinte e sete anos…”

- “Estás dramático, meu poeta ! Eu sinto realmente a minha pobreza de palavras garrafais… Queria ser uma vestal de estilo fervente para sustentar o fogo sagrado do diálogo… O monólogo dever cansar-te, e a tragédia desde Sófocles até nós não pode dispensar uma segunda pessoa…”

- “És um prodígio…”

- “De literatura grega, não é verdade ? Inda sei muitas outras coisas da Grécia. A Lais também era muito versada, e repetia as rapsódias gregas com um garbo sublime ; mas a Lais era… Sabes tu o que ela era ?… E serei eu o mesmo ? Já vês que a literatura não é sintoma de virtudes dignas da tua afeição…”

Tinham chegado ao camarote na segunda ordem. O dominó-veludo bateu, e a porta foi, como devia ser, aberta.

A família que ocupava o camarote compunha-se de muitas pessoas, sem tipo, vulgaríssimas, e prosaicas de mais para captarem a atenção de um leitor avesso a trivialidades. Todavia, estava aí uma mulher que valia um mundo, ou coisa maio que o mundo ─ o coração de um poeta.

As rosas purpurinas dos vinte anos tinham-lhe sido crestadas pelo hálito abrasado dos salões. A placidez extemporânea de uma vida agitada via-se-lhe no rosto protestando não contra os prazeres, mas contra a debilidade de um sexo que não pode acompanhar com a matéria as evoluções desenfreadas do espírito. Mas que olhos ! Mas que vida ! Que electricidade no frenesi daquelas feições ! Que projecção de uma sombra azulada lhe descia das pálpebras ! Era uma mulher em cujo rosto transluzia a soberba, talvez demasiada, da sua superioridade.

O dominó-veludo estendeu-lhe a mão, e chamou-lhe Laura.

Seria Laura ? É certo que ela estremeceu, e recuou a mão repentinamente como se uma víbora lha tivesse mordido.

Aquela palavra simbolizava um mistério dilacerante : era a senha de uma grande luta em que a pobre senhora devia sair escorrendo sangue.

- “Laura,” ─ repetiu o dominó ─ “não me apertas a mão ? Deixa-me ao menos sentar-me perto… Muito perto de ti… Sim ?”

O homem que mais próximo estava de Laura afastou-se urbanamente para deixa aproximar uma máscara, que denunciara o sexo pela voz, e a distinção pela mão.

E Carlos nunca mas despregou os olhos daquela mulher, que revelava a cada instante um pensamento na variadas fisionomias com que queria disfarçar a sua angústia íntima.

A desconhecida fez sinal a Carlos para que se aproximasse. Carlos, enleado nos embaraços naturais daquela situação toda para ele enigmática, recusava cumprir as imperiosas determinações de uma mulher que parecia calcar todos os melindres. Os quatro ou cinco homens, que pareciam familiares de Laura, não deram muita importância aos dominós. Conjecturaram, primeiro, e quando supuseram que tinham conhecido as visitas, deixaram em plena liberdade as duas mulheres, que se

falavam de perto como duas amigas íntimas. O cavalheiro passou por um tal Eduardo, e a desconhecida tiveram-na por uma D. Antónia.

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