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quinta-feira, 6 de outubro de 2011

PupilaCapítulo 14°

Posted by Anônimo | quinta-feira, outubro 06, 2011

Capitulo 14

A frequente repetição dos passeios de Vasco não podia ser indiferente a meu irmão. Fui suavemente interrogada por minha mãe a tal respeito, respondi-lhe com respeito, mas sem temor. Meu irmão pressentiu a necessidade de matar aquela inclinação nascente, e expôs-me um quadro feio dos costumes péssimos de Vasco, e o conceito público em que era tido o primeiro homem a quem eu tão francamente me oferecia em namoro. Fui altiva com o meu irmão, e adverti-lhe que os nossos corações não tinham contraído a obrigação de se consultarem.

Meu irmão sofreu ; eu também sofri ; e, passado o momento da exaltação, quis cerrar a ferida que abrira naquele coração, desde a infância identificado com as minhas vontades.

Este sentimento era nobre ; mas o do amor não era inferior. Se eu pudesse reconciliá-los ambos ! Não podia, nem sabia fazê-lo ! Uma mulher, quando principia a sua dolorosa tarefa do amor, não sabe mentir com aparências, nem calcula os prejuízos que pode evitar com um pouco de impostura. Eu fui assim. Deixe-me ir abandonada à correnteza da minha inclinação ; e, quando forcejei por me tornar tranquila, à isenção da minha alma, não pude vencer a corrente.

Vasco de Seabra perseguia-me : as cartas eram incessantes, e a grande paixão que elas exprimiam não era ainda igual à paixão que me faziam.

Meu irmão quis tirar-me de Lisboa, e minha mãe instava pela saída, ou pela minha entrada a toda a pressa nas Salésias. Informei Vasco das intenções de minha família.

No mesmo dia, este homem, que me pareceu um cavalheiro digno de outra sociedade, entrou em minha casa, pediu-me urbanamente a minha mãe, e foi urbanamente repelido. Eu soube-o, e torturei-me ! Não sei do que seria então capaz a minha alma ofendida ! Sei que foi capaz de tudo que pode caber em forças de uma mulher, contrariada nas ambições que nutrira, sozinha consigo, e conjurada a perder-se por elas.

Vasco, irritado num nobre estímulo, escreveu-me, como quem me pedia a mim a satisfação dos desprezos da minha família. Respondi-lhe que lha dava plena, como ele a exigisse. Disse-me que fugisse de casa, pela porta da desonra, e muito cedo entraria nela com a minha honra ilibada. Que desgraça ! Naquele tempo até as pompas de estilo me seduziam !… Respondi que sim, e cumpri.

Meu amigo Carlos. Vai longa a carta, e a paciência é curta. Até ao correio que vem.

Henriqueta.”

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