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sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Ultimo Capítulo de Pupila

Posted by Anônimo | sexta-feira, outubro 14, 2011

Capitulo 27

O homem é fraco, e sente-se mesquinho perante a majestade da beleza ! Carlos sentiu-se dobrar nos joelhos ; e a primeira palavra que balbuciou foi “Perdão” !

Henriqueta não pôde receber com a firmeza que devia supor-se-lhe uma tal surpresa. Sentou-se e limpou o suor que lhe correra de improviso todo o corpo.

A coragem de Carlos desmereceu do muito em que ele a tinha. Sucumbiu, e nem ao menos lhe deixou o dom dos lugares-comuns. Silenciosos, olhavam-se com uma simplicidade infantil, indigna de ambos. Henriqueta revolvia no pensamento a indústria com que o seu segredo fora violado. Carlos invocava ao coração palavras que o salvassem daquela crise, que o materializava por ter tocado o extremo do espiritualismo.

Não nos faremos cargo de satisfazer as despóticas exigências do leitor, que pede contas das interjeições e das reticências de um diálogo.

O que podemos garantir-lhe, debaixo da nossa palavra de folhetinista, é que a musa das lamentações desceu à invocação de Carlos, que, por fim, desenvolveu toda a eloquência da paixão. Henriqueta ouviu-o com a seriedade com que uma rainha absoluta escuta um ministro da fazenda, que lhe conta os chatíssimos e maçudos negócios das finanças.

Sorria-se, às vezes, e respondia com um ressaibo de mágoa e de ressentimento, que matava, no nascedouro, os transportes do seu infeliz amante.

As suas últimas palavras, essas sim, são signas de se arquivarem para escarmento daqueles que se julgam herdeiros dos raios de Júpiter Olímpico, quando se empavonam de fulminar as mulheres que tiveram a desventura de se queimarem, como as mariposas, no lume eléctrico de seus olhos. Foram estas as suas palavras :

- “Sr. Carlos ! Até hoje os nossos espíritos viveram ligados por umas núpcias que eu pensei não perturbarem a nossa cara tranquilidade, nem escandalizarem a caprichosa opinião pública. De ora em diante, um solene divórcio entre os nossos espíritos. Estou punida de mais. Fui fraca e talvez má, em prender-lhe a sua atenção num baile mascarado. Perdoe-me, que sou, por isso, mais desgraçada do que pensa. Seja meu amigo. Não me envenene esta santa obscuridade, este círculo estreito da minha vida, em que a mão de Deus tem derramado algumas flores. Se não pode avaliar o travo das minhas lágrimas, respeite cavalheiramente uma mulher que lhe pede com as mãos erguidas o favor, a piedade de a deixar sozinha com o segredo da sua desonra, que eu prometo nunca mais alargar a minha alma nestas revelações, que morreriam comigo, se eu pudesse suspeitar que atraía com elas a minha desgraça…”

Henriqueta continuava, quando Carlos, com lágrimas de uma dor sincera, lhe pedia ao menos a sua estima, e lhe entregava as suas cartas, debaixo do sagrado juramento de nunca mais a procurar.

Henriqueta, entusiasmada pelo patético desta nobre rogativa, apertou ansiosamente a mão de Carlos, e despediram-se………………………………………………………………………………

E nunca mais se viram.

Mas o leitor tem o direito a saber mais alguma coisa?

Carlos, um mês depois, partiu para Lisboa, colheu as necessárias informações, e entrou em casa da mãe de Henriqueta. Uma senhora, vestida de luto, e encostada a duas criadas, veio encontrá-lo numa sala.

- “Não tenho a honra de conhecer…” ─ disse a mãe de Henriqueta.

- “Sou um amigo…”

- “De meu filho ?!…” ─ interrompeu ela. ─ “Vem-me dar parte do triste acontecimento ?… Eu já o sei !… Meu filho é um assassino !…”

E prerrompeu num choro, que a não deixava articular palavras.

- “O filho de V. Exa assassino !…” ─ interpelou Carlos.

- “Sim… Sim… Pois não sabe que ele matou em Londres o sedutor da minha desgraçada filha ?!… da minha filha… assassinada por ele…”

- “Assassinada, sim, mas só na sua honra” ─ atalhou Carlos.

- “Pois minha filha vive !… Henriqueta vive !… Oh meu Deus, meu Deus, eu vos agradeço !…”

A pobre senhora ajoelhou, as criadas ajoelharam com ela, e Carlos sentiu um calafrio nervoso, e uma exaltação religiosa, que quase o fizeram ajoelhar com aquele grupo de mulheres, cobertas de lágrimas………………………………………………………………………………………………..

Dias depois, Henriqueta era procurada no seu terceiro andar, por seu irmão, e choravam ambos abraçados com toda a expansão de uma dor represada.

Houve aí um drama de agonias grandiosas, que a linguagem do homem não saberá descrever nunca.

Henriqueta abraçou sua mãe, e entrou num convento onde pede incessantemente a Deus a salvação de Vasco de Seabra.

Carlos é o íntimo amigo desta família, e conta este lance da sua vida como um heroísmo digno de outras épocas.

Laura, viúva de quatro meses, contrai segundas núpcias, e vive feliz com o seu segundo marido, digno dela.

FIM

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