Uma personagem em apuros está conversando com outra, atrás de uma cortina. O local é escuro, o clima é de tensão. Como pensa que estão sozinhas, essa personagem revela, com detalhes, todos os seus erros do passado. O que ela não sabe é que, por detrás da cortina onde as duas estão discutindo, está uma plateia atenta, quieta. De repente sobe a cortina e a problemática é desmascarada diante de todos.
Se você acha que o parágrafo acima reproduz a cena principal de anteontem, em "A Favorita", na qual a demoníaca Flora confessa seus crimes para Donatela, que lhe armou uma cilada, errou.
Trata-se da estrutura completa da cena final do sétimo episódio da 1ª temporada (2003) de "As Visões da Raven" (That's so Raven). Foi exibido na grade do SBT cerca de 10 vezes somente no ano passado.
É o episódio "Campanha na Garganta", no qual a personagem Chelsea (Anneliese van der Pol) concorre à presidência do grêmio da escola, e acaba se corrompendo. Na hora da decisão, levada atrás de um palco por Raven (Raven Baxter), ela confessa seus erros sem saber que a plateia oculta escuta tudo. Sobe a cortina e Chelsea é flagrada.
Isso não pode ser considerado um plágio autoral, já que há diferença no conteúdo dos roteiros, características e falas dos personagens. Enquanto no seriado norte-americano Chelsea é apenas uma menina bacana que errou e se arrepende, na novela brasileira Flora é um ser das trevas que não tem limite.
Mas não há dúvidas de que a novela da Globo apenas adaptou algo que já existia.
A prática é cada vez comum entre autores de novelistas ou filmes, sempre à caça de roteiros e cenas impactantes.
Em "A Favorita", o autor João Emanuel Carneiro também se inspirou em histórias reais. Cerca de duas semanas atrás, Dódi (Murilo Benício) traiu a noiva (Flora) na festa de casamento e ainda foi flagrado com prostitutas e drogas em um motel no episódio seguinte. Uma evidente reprodução do malfadado destino do ex-PM Marcelo Silva.
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